sábado, março 01, 2008

hoje, dia primeiro de março de 2008!!


O parto está previsto para 10/4/2008
Você está grávida de
34 semanas e 2 dias
(8 meses).
Pobre...mas culto!

 
Calor demais, trânsito em São Paulo, tudo parado. De um lado: uma Mercedes COM AR CONDICIONADO, uma madame e motorista. Do outro: um fusquinha com um gordinho todo suado e a barba por fazer. O gordinho xinga, buzina, faz um escarcéu por causa do trânsito até que a madame baixa o vidro do Mercedes e diz:
- "A paciência é a mais nobre e gentil das virtudes!": Shakespeare, em "Macbeth".
O gordinho não deixa barato:
- "Vá tomar no cú!": Nelson Rodrigues, em "A vida como ela é".
 

As várias profissões da mãe

Muito se fala sobre as dificuldades de se conciliar gravidez/filhos com a vida profissional. Não há dúvidas de que algumas mulheres ficam inseguras sobre seu futuro no trabalho, ou no mercado de trabalho, depois de meses de licença-maternidade e da posterior vida com criança em casa. Se formos falar sério sobre essa questão ainda delicada — por mais que já tenhamos tido tempo de resolver isso de uma vez —, teremos aí uma série de colunas para publicar. Mas como domingo não é dia de falar sério, muito menos nesse espaço dado a bobagens, vamos olhar a questão de outra forma. Depois de um ano e 10 meses na função de mãe, cheguei à conclusão de que todos esses medos e dúvidas não passam de intriga da oposição. A maternidade nos habilita para uma série tão grande de tarefas que jamais poderíamos temer ficar sem emprego depois de parir. Em outras palavras, depois de ser mãe, somos capazes de fazer tanta coisa que não fazíamos antes, que não é possível que nos falte um bico que seja, mesmo em outra profissão.

Só para começar os exemplos: na falta de opção melhor, podemos nos candidatar a malabaristas de circo. Não entenderam? Então lembra lá dos primeiros meses com o bebê no colo. Quantas coisas você pegou do chão com o pé? Quantos braços você achava que tinha quando equilibrava bebê, mamadeira, chupeta, a boneca soninho, a fraldinha de boca e ainda conseguia acender o abajur e botar o CD de canções de ninar para tocar? Segundo pesquisa Data Salto Agulha, calcula-se que, no primeiro ano de vida das crianças, as mães tenham desenvolvido umas 35 novas habilidades com os pés, 52 com as mãos e 26 com a boca — e nada disso é para diversão própria, coitadas. Não há Beto Carrero ou Orlando Orfei que dispense um talento desses.

Também podemos, em caso de necessidade ou por vontade própria, nos transformar em produtoras. Produtora de moda, de eventos, o que seja. Ou vai me dizer que você já não se pegou batendo perna por horas a fio atrás da roupa de noivo da festa junina, papel que foi caber justamente ao seu filho? Essa semana me embrenhei nas profundezas da Saara atrás de um short preto, liso, para compor a roupa que Maria Clara usou na Festa do Folclore ontem. Gente, não se faz roupa preta para criancinhas de 1 ano! Já desconfiava e aprendi agora que preto não é cor de bebê, mas será que as professoras não sabem disso? Nós, como produtoras, saberemos. Sem contar as festas de aniversário que, por mais simples que sejam, exigem toda a nossa dedicação e, olhem aí, produção.

Nós, mães, podemos trabalhar em laboratórios de análises clínicas, tamanha a intimidade que criamos com cocôs de diversas formas e consistências e pela maneira como passamos a tratar do assunto com naturalidade. Podemos nos candidatar a animadoras de karaokê, uma vez que nosso repertório musical aumenta consideravelmente e que somos obrigadas a treinar o gogó diariamente. Podemos alçar vôos maiores e virar gerentes de RH, graças à experiência adquirida com as inúmeras contratações e demissões de babás e empregadas. Podemos virar balconista de farmácia e mostrar que sabemos preço, qualidade e utilidade de todos os produtos destinados a crianças. Numa atitude mais radical, podemos nos dedicar à religião e virar freiras, já que, na cabeça dos filhos e de alguns parentes e amigos — muy amigos —, mãe não bebe, não fuma, não sai para dançar, não estica em happy hour, não azara, não namora o marido e, conseqüentemente, não transa.

Depois, quando os filhos já estiverem adultos e, claro, não lembrarem de nada disso, podemos, enfim, nos candidatar a santas, que é o que a gente merece. Desculpem, pais, pela falta de modéstia.

Arquivo do Jornal O Dia – Coluna Salto alto

Já comentei aqui uma vez sobre um conhecido que defende com unhas e dentes a teoria de que quando a criança completa um ano, aquele casamento está acabado. Segundo ele, alguns casais conseguem superar e reverter a situação, mas o fato é que aos doze meses depois do parto já não há ali um marido e uma mulher. Acho um certo exagero, mas vamos combinar que não está de todo errado, não. Como muitas de nós, Angelina Jolie, que já adotou três e pariu uma, que já ouviu Brad Pitt reclamar publicamente que ela só tem tempo para as crianças e que teria passado uma temporada desinteressada de sexo, ou ela própria já se lamentou das exigências do marido, enfim, como muitas de nós, ela deve saber que se filhos não destroem casamentos também estão longe de salvá-los.

Você, cara leitora, que tem filhos, e você, caro leitor, que também é pai, me digam se não é verdade:

Que durante a licença-maternidade a mãe tem vontade de matar o sujeito com quem fez filho pelo menos duas vezes por semana, seja porque ele não ajuda em nada ou porque ajuda tanto que vira um intrometido.

Que queremos matar o marido simplesmente porque nossos nervos estão à flor da pele e matar o bebê está fora de cogitação.

Que a gente, em algum momento, e por períodos de duração variável, só quer saber da criança e eles, com razão, se ressentem disso.

Que crianças em casa significam avós em casa com mais freqüência, e sogro e sogra nunca foram reconhecidos por estimularem matrimônios.

Que o sexo passa por todo um processo de, digamos, readaptação, seja pela impossibilidade de praticá-lo quando se quer ou por pura falta de vontade, o que gera estresse em ambos os casos.
Que pais perdem, entre outros, o direito de assistir ao jogo do time deles com a TV nas alturas e que passam um ano sem poder gritar 'gol' dentro de casa.

Que mães passam vários anos sem, entre outros tantos, o direito de tomar banhos demorados e de sair de casa sem ter que acabar de se arrumar no elevador.

Que o casal vai passar muitos anos discutindo sobre a melhor maneira de educar a criança e de quem é a culpa quando algo dá errado.

São só alguns exemplos e, se alguém me provar que há algo de romântico e afrodisíaco nisso e que não há remédio melhor para relacionamentos em crise, tudo bem, vamos apoiar Angelina Jolie e quem mais quiser se valer desse recurso. Até porque, qualquer uma que fosse casada com Brad Pitt ia mais é querer tentar fazer dezenas de filhos com ele mesmo. Não sendo o nosso caso, acho melhor acreditar que, em assunto de marido e mulher, bebê nenhum mete a colher.