sábado, março 01, 2008

 

As várias profissões da mãe

Muito se fala sobre as dificuldades de se conciliar gravidez/filhos com a vida profissional. Não há dúvidas de que algumas mulheres ficam inseguras sobre seu futuro no trabalho, ou no mercado de trabalho, depois de meses de licença-maternidade e da posterior vida com criança em casa. Se formos falar sério sobre essa questão ainda delicada — por mais que já tenhamos tido tempo de resolver isso de uma vez —, teremos aí uma série de colunas para publicar. Mas como domingo não é dia de falar sério, muito menos nesse espaço dado a bobagens, vamos olhar a questão de outra forma. Depois de um ano e 10 meses na função de mãe, cheguei à conclusão de que todos esses medos e dúvidas não passam de intriga da oposição. A maternidade nos habilita para uma série tão grande de tarefas que jamais poderíamos temer ficar sem emprego depois de parir. Em outras palavras, depois de ser mãe, somos capazes de fazer tanta coisa que não fazíamos antes, que não é possível que nos falte um bico que seja, mesmo em outra profissão.

Só para começar os exemplos: na falta de opção melhor, podemos nos candidatar a malabaristas de circo. Não entenderam? Então lembra lá dos primeiros meses com o bebê no colo. Quantas coisas você pegou do chão com o pé? Quantos braços você achava que tinha quando equilibrava bebê, mamadeira, chupeta, a boneca soninho, a fraldinha de boca e ainda conseguia acender o abajur e botar o CD de canções de ninar para tocar? Segundo pesquisa Data Salto Agulha, calcula-se que, no primeiro ano de vida das crianças, as mães tenham desenvolvido umas 35 novas habilidades com os pés, 52 com as mãos e 26 com a boca — e nada disso é para diversão própria, coitadas. Não há Beto Carrero ou Orlando Orfei que dispense um talento desses.

Também podemos, em caso de necessidade ou por vontade própria, nos transformar em produtoras. Produtora de moda, de eventos, o que seja. Ou vai me dizer que você já não se pegou batendo perna por horas a fio atrás da roupa de noivo da festa junina, papel que foi caber justamente ao seu filho? Essa semana me embrenhei nas profundezas da Saara atrás de um short preto, liso, para compor a roupa que Maria Clara usou na Festa do Folclore ontem. Gente, não se faz roupa preta para criancinhas de 1 ano! Já desconfiava e aprendi agora que preto não é cor de bebê, mas será que as professoras não sabem disso? Nós, como produtoras, saberemos. Sem contar as festas de aniversário que, por mais simples que sejam, exigem toda a nossa dedicação e, olhem aí, produção.

Nós, mães, podemos trabalhar em laboratórios de análises clínicas, tamanha a intimidade que criamos com cocôs de diversas formas e consistências e pela maneira como passamos a tratar do assunto com naturalidade. Podemos nos candidatar a animadoras de karaokê, uma vez que nosso repertório musical aumenta consideravelmente e que somos obrigadas a treinar o gogó diariamente. Podemos alçar vôos maiores e virar gerentes de RH, graças à experiência adquirida com as inúmeras contratações e demissões de babás e empregadas. Podemos virar balconista de farmácia e mostrar que sabemos preço, qualidade e utilidade de todos os produtos destinados a crianças. Numa atitude mais radical, podemos nos dedicar à religião e virar freiras, já que, na cabeça dos filhos e de alguns parentes e amigos — muy amigos —, mãe não bebe, não fuma, não sai para dançar, não estica em happy hour, não azara, não namora o marido e, conseqüentemente, não transa.

Depois, quando os filhos já estiverem adultos e, claro, não lembrarem de nada disso, podemos, enfim, nos candidatar a santas, que é o que a gente merece. Desculpem, pais, pela falta de modéstia.

Nenhum comentário: