sexta-feira, maio 01, 2009

A segunda gravidez é mais legal

A segunda gravidez é mais legal

Adriana Negreiros

Hoje cedo, enquanto tomava seu leitinho no sofá, esparramada na minha barrigona, Emília perguntou:

- Mamãe, não é que é mais legal grávida que já tem filha?

- Como assim?

- Porque você tem uma filhinha pra fazer carinho na sua barriga.

Nunca tinha pensado por esse lado, mas o raciocínio da Emília faz todo sentido. Dividir as alegrias e descobertas da gravidez com uma criança é ainda mais bacana (o Lira que me desculpe) do que com um adulto. Para a Emília, saber que existe um bebê dentro de mim beira o fantástico.

- Mamãe, aí dentro tem brinquedo?

- Não, meu amor.

- Como ela brinca?

- Com os pezinhos.

- Mamãe, não é que ela me vê pelo seu umbigo?

- Não, filha, ela só escuta sua voz.

E então Emília não para de falar com a irmã. Conta como foi o dia na escola, informa quem são os personagens mais legais dos desenhos da televisão, explica que para nadar bem é preciso comer bastante peixe (uma das abobrinhas que eu inventei para ela acrescentar o item ao seu cardápio), que a melhor amiga dela chama-se Maria Vitória, que o dia está chuvoso. É uma graça. Por mais que, eventualmente, a situação me crie certo constrangimento.

Por exemplo: todos os dias, ao chegar da escola, Emília liga para o meu trabalho. Não para falar comigo.

- Mamãe, por favor, chama a Alice.

- Mas, filha… Acho que ela está dormindo.

- Acorda, ué.

Então boto a mão no bocal do telefone e, fazendo supremo esforço para que meus colegas de baia não me escutem, faço voz de bebê e prossigo a conversa.

- Oi, irmãzinha! Estou morrendo de saudades!

Pode ser viagem minha, mas sempre noto que, quando Emília está grudada no meu umbigo falando sem parar, Alice mexe loucamente. Emília fica exultante. Quer dizer, menos quando está com sono. Aí sai chorando rumo ao quarto.

- O que foi, minha filha?

- A Alice me chutou! E doeu muito!

E aí cabe a mim fingir que ralho com Alice. Peço a ela que não, não maltrate mais sua irmã.

Finjir não é bem a palavra certa. Por mais que a Alice ainda seja um feto que habita o meu ventre, o fato é que para todos nós ela já faz parte da família. Já tem seus próprios brinquedos (os pés), espalha seus pertences pela casa (o carrinho de passear vive de um lado para o outro, porque a Emília adora rodar com as bonecas nele) e até implica com a irmã – razão pela qual tenho que falar mais sério com ela, de vez em quando.

Claro, se não fosse a imaginação da Emília, não seria tão divertido. Minha primogênita tem toda razão – é muito mais legal grávida que já tem filha.

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